Segundo o Dr. Marshall Goldsmith, que é considerado pela Harvard Business School o Coach número um em Liderança no mundo, líderes de excelência ao redor do mundo todo têm três traços em comum. Aprofunde-se em cada um desses traços logo abaixo e reflita se a sua jornada rumo à excelência em liderança está bem direcionada.
CORAGEM
No mundo dos negócios, coragem é interpretada como a capacidade de assumir riscos. Esses riscos costumam ser de natureza intelectual, técnica ou financeira. Porém, há um risco ainda mais "arriscado” e que raramente é contemplado na equação de sucesso dos líderes: o risco de natureza emocional.
Há uma autora, chamada Brené Brown, que vem causando uma revolução positiva no mundo corporativo, sobretudo desde 2010. Ela é hoje uma palestrante e educadora corporativa extremamente requisitada nas maiores empresas do mundo, e os livros dela foram traduzidos em dezenas de línguas. Ela fez até um especial para a Netflix em 2019, "O Poder da Coragem", que recomendo fortemente! A sua TED Talk “O Poder da Vulnerabilidade” está há alguns anos entre as 5 mais visualizadas da plataforma.
O que Brené ensina? Que uma liderança de excelência só é possível quando líderes decidem retirar a capa de super-homem e de super-mulher; quando decidem colocar de lado a armadura emocional característica sobretudo de quem assume cargos de comando.
Mas o que isto tem a ver com coragem? Vulnerabilidade é sintetizada pela Brené como aquilo que experimentamos em momentos de incerteza, risco e exposição, ou seja, algo que está bem longe de equivaler a fraqueza! Inclusive, seria possível enfrentar incerteza, risco e exposição sem coragem? “Não!”, até mesmo os soldados das forças armadas americanas confirmaram para Brené, em conversa.
É por isso e por muito mais que o Dr. Marshall bate tanto na tecla da Coragem como atributo de líderes de sucesso. É preciso coragem para reconhecer que eu, que sou líder, não sou completo e competente em todos os aspectos, e que tenho fraquezas que podem chegar até mesmo a me envergonhar! É preciso coragem para eu, líder, sair da zona de conforto e me olhar honestamente no espelho, descobrir meus pontos cegos, enfrentar meus medos mais internos, pedir e buscar feedback, e realizar aquelas mudanças (inconvenientes) que são necessárias para eu me tornar um líder de excelência.
Além de tudo, para ter excelência, um líder precisa bancar soluções inovadoras, dizer coisas importantes e desconfortáveis, ter conversas difíceis, tornar-se um gestor de mudanças, criar ambientes psicologicamente seguros. Essas, são todas atitudes que envolvem vulnerabilidade, quero dizer, coragem.
Na grande maioria das organizações, a questão da vulnerabilidade ainda está muito mais no discurso do que na prática. É preciso um esforço por parte dos líderes para que espaços psicologicamente seguros sejam a norma, e não a exceção.
HUMILDADE
É muito fácil perder a humildade quando você alcança a posição de autoridade que a liderança proporciona. É muito comum que a satisfação de atingir um grande objetivo profissional - como um cargo de liderança - leve a um "quê" de arrogância, um "quê" de nariz empinado, um "quê" de "eu sou mais do que você, porque eu sei mais do que você", um "quê" de "eu sou mais do que você, porque eu tenho mais poder do que você".
E, pasmem, um líder demonstra isto nas sutilezas: ou seja, quando ele é a pessoa cuja opinião é a única que importa, quando ele não aceita ideias contrárias à sua, quando não quer ouvir verdades que vão contra aquilo em que acredita, quando é a pessoa que tem sempre a palavra final em qualquer circunstância, quando faz questão que a solução final seja a dele próprio, quando não busca alterar seus próprios comportamentos que são mal recebidos pelas pessoas ao seu redor...
A arrogância, ou seja, a falta de humildade, é perigosa, porque além de ser um posicionamento instintivo à medida que uma pessoa adquire mais poder, geralmente é um ponto cego da imensa maioria dos líderes - ou seja é algo que a imensa maioria dos líderes não enxergam em si mesmos. Além disto, a falta de humildade tem o potencial de se tornar o maior motivo para a queda de um líder ou o maior impeditivo para a sua ascensão mais rápida ou mais larga.
Alimentar os desejos do ego pode ser destruidor, pois o ego é insaciável. Inclusive, no livro “O Ego é seu Inimigo” - um livro maravilhoso, diga-se de passagem! - o autor Ryan Holiday diz "Se você não sabe de quanto você precisa, o padrão é sempre querer mais!" E não há espaço para a paz de espírito e para a felicidade, para quem é direcionado por um ego guloso. Não há espaço para degustar o processo, quando você vive correndo para uma linha de chegada que fica cada vez mais longe...
Há uma grande distinção entre auto-confiança e arrogância. A pessoa humilde tem clareza. A pessoa egocêntrica alimenta ilusões confortáveis. A pessoa humilde busca enxergar e ouvir o que traz desconforto. A pessoa egocêntrica busca esconder e calar verdades. A pessoa humilde lida bem com incertezas, tanto com as suas próprias quanto com as dos outros. A pessoa egocêntrica é cheia de certezas.
A arrogância é a escolha de quem tem medo de confessar que ainda tem muito pra aprender. É uma defesa que não deixa transparecer a vulnerabilidade. Na realidade, líderes arrogantes têm uma noção frágil do seu próprio Eu, e por isto se sentem constantemente sob ameaça, e por isto vivem com os escudos armados, e por isto não aceitam revelar (para si mesmos, antes de tudo!) as suas dificuldades e fraquezas, e mantêm sempre uma certa distância dos outros "meros mortais". No fundo, no fundo, seus liderados estão "abaixo" de si, muito além do organograma!
Qualquer jornada de aprendizado é uma experiência de fortalecimento da humildade, e ousamos dizer que não há cargo que demande maior aprendizado diário do que o cargo de liderança. Seu objetivo, como líder, é - em uma frase - fazer convergir as vontades de vários seres humanos de backgrounds totalmente diferentes, para que eles atuem de forma coordenada numa realidade volátil, incerta, complexa, ambígua, e de modo a gerarem resultados mensuráveis cada vez maiores e melhores. Não há receita de bolo para isto e não há uma solução mágica que resolva tudo de uma vez por todas: é preciso se abrir para testes, treinos e aprendizados diários para conquistar a excelência em liderança.
Um líder precisa tomar muito cuidado com as histórias que ele conta para si mesmo, sobre si mesmo. É fundamental que um líder mantenha diálogo diário com a realidade, porque quanto mais sucesso um líder acumula, mais fácil é ele se perder em fantasias destruidoras sobre sua própria grandeza.
A artista Marina Abromovic diz o seguinte: "Quando você começa a acreditar na sua grandeza, ali é o momento em que a sua criatividade morre." No momento em que você se convence que você é o bam-bam-bam, você para de crescer, para de aprender. E ali você deixa de ser realmente grande...
Só o cultivo diário dos bons hábitos de liderança aproxima uma pessoa de sucesso da realidade, nua e crua. A pessoa humilde sabe da necessidade de ficar atenta sobretudo quando um projeto dá muito certo, quando estão todos aplaudindo, quando ela está colhendo os frutos de árduos anos de trabalho, porque ela sabe que é exatamente ali que ela está mais vulnerável a submeter-se à ilusão de sua grandeza. É exatamente ali que ela precisa dar um passo para trás e adquirir perspectiva! É sempre só o começo de uma jornada de auto-desenvolvimento.
A pessoa humilde está sempre colocando a sua grandeza em cheque, apesar de ela ter plena consciência de suas capacidades e competências. Mais do que estar ciente de suas possibilidades, a pessoa humilde está ciente de suas limitações, porque ela sabe o quanto o sentimento de “grandeza fantasiosa” a distancia do real.
DISCIPLINA
A disciplina é o terceiro pilar sobre o qual se apoiam os líderes de sucesso. Disciplina é a capacidade de comprometer seu tempo e sua energia com um resultado específico a ser perseguido. O tamanho do seu esforço tende a ser proporcional à rapidez com que você chegará aonde espera, se sua dedicação for bem direcionada, e se for bem acompanhada.
É preciso escolher o comprometimento no lugar da conveniência em uma jornada de aprendizado. E, tratando-se de comportamentos, uma fase delicada é a da desaprendizagem. Já dizia o pensador norte-americano Alvin Toffler: “O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.”
Você, líder, precisará sair da sua zona de conforto repetidas vezes para reaprender comportamentos. A disciplina irá te auxiliar na implementação consistente de comportamentos eficazes, até que eles se enraízem nos seus caminhos neurais e se tornem um hábito. Naquele momento você já terá criado um novo "instinto" e não precisará mais de tanto esforço para obter a mesma qualidade de resultados. Para ser um líder de excelência, você precisa ter a disciplina necessária para fazer o trabalho duro e continuar melhorando a cada dia.
Cuidar do seu desenvolvimento como líder é um trabalho que equivale a tomar banho. É uma necessidade básica e diária. Não é porque você tomou banho hoje que amanhã ou depois de amanhã você não precise de novo! Fique um mês sem tomar banho pra você ver como fica! Pois então: fique um mês sem desenvolver a sua coragem, sem desenvolver a sua humildade, sem praticar a disciplina para você ver como você se distanciará das pessoas à sua volta, e sobretudo das pessoas que você precisa manter próximas, como aliadas: os seus liderados!
Não há substitutos para a disciplina. Mais do que a velocidade, o que importa é a direção e a consistência. Somente a consistência torna um líder confiável aos olhos dos outros. De nada adianta você ser um bom ouvinte hoje, se amanhã e durante a semana inteira você não é. De nada adianta você cuidar de um liderado hoje, se amanhã você fecha a porta para o seu mundo de problemas e deixa todo mundo à deriva do outro lado. De nada adianta você hoje buscar praticar os comportamentos de um líder de excelência, se amanhã, na semana que vem ou no mês que vem você abandona o seu comprometimento com a excelência.
Mudar por um dia é fácil, manter a mudança é que é difícil! Aristóteles dizia: "Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito." Como em tudo o que envolve treino (e liderança envolve treino!), a masterização só vem a partir da prática regular e consciente de certos comportamentos. É isto que firmará hábitos. É isto que fará com que mudanças sejam sustentáveis com o passar do tempo.
Você deve ter percebido que os 3 atributos são interdependentes. Cabe a você agora refletir sobre o seu nível de coragem, humildade, disciplina, na prática, para logo em seguida iniciar uma mudança positiva em sua liderança.
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