7 verdades ácidas que farão toda a diferença em 8 minutos
Relacionamos aqui 7 verdades ácidas que te provocarão a enxergar com novidade, sobretudo se você acha que as pessoas ouvem grego quando você fala em português. (Atenção aos desprevenidos: choque de realidades e humor adulto à frente!)
1. A PESSOA QUE TE OUVE NÃO OUVE VOCÊ. ELA OUVE ELA MESMA PENSANDO SOBRE O QUE VOCÊ DIZ.
Dentro de todo ouvido há duendes mágicos que imediatamente transformam todas as palavras que ali entram em algo imprevisto. Não há escuta neutra. Não há recepção não-julgadora. Seres humanos de luz aprendem a domar esses gremlins, mas eles nunca deixam de existir...
Você só (meio que) controla as palavras que você diz e não o que as pessoas escutam a partir delas.
Dentro de cada ser humano, há labirintos de interpretações que funcionam no piloto automático e que se auto-construíram desde a tenra infância, motivados mais pela emoção do que pela razão (por mais que a gente se iluda do contrário).
Uma pessoa existe por inteiro antes de você falar com ela. A outra pessoa não é um receptáculo vazio só esperando por você para preencher-se de significado.
A realidade da outra pessoa foi construída antes da sua chegada na vida dela e é muito maior do que qualquer grande símbolo que você emita com suas cordas vocais.
Tudo o que você diz vai imediatamente se conectando às teias de significado já existentes na outra pessoa. Ou não: se há teias de aranha, é provável que sua mensagem (inteira ou em parte) não seja nem ouvida. Nem ouvida!
Não adianta você perguntar para um membro nativo de uma tribo totemista se ele acredita em Deus. A questão não é se ele acredita ou não em Deus. A questão é que ele não entende a sua pergunta. O próprio conceito de Deus não existe na cabeça dele.
É claro que sua mensagem faz sentido na sua cabeça: foi você quem a pensou! O seu papel é selecionar as palavras (e o modo de lançá-las ao vento) que irão trafegar com mais facilidade nos labirintos alheios.
Um bom comunicador não é aquele que fala bem. Um bom comunicador é aquele que é bem compreendido.
Portanto, antes de viajarem juntos, assegure-se que todos estão com o mesmo mapa em mãos.
Antes de pedir, exigir, demandar algo específico, busque alinhar o propósito, o porquê; busque esclarecer o contexto, o impacto, o big picture, tudo o que está de fato em jogo, muito além daquela ação, daquele detalhe, daquele pingo no i.
2. VOCÊ FALA "COM" OU FALA "PARA"?
Há uma grande diferença entre falar “com” pessoas e falar “para” pessoas.
“Para” implica que eu estou numa ponta e te grito do outro lado, esperando que você me perceba. “Com” indica que eu vou até você e abro o caminho para você acompanhar o meu raciocínio, enquanto eu observo onde você pisa, e te redireciono.
“Para” indica passividade: há um informante e um (pseudo-)receptor. “Com” implica troca ativa de compreensões.
Se desejo falar “com” pessoas eu preciso antes de tudo centrar-me em quem recebe a minha mensagem.
O foco deixa de ser eu e deixa de ser o que eu tenho a dizer. O foco passa a ser a pessoa que me ouve e como a vida dela será impactada pelo que eu lhe digo.
Portanto, pergunte-se: de que forma as palavras que estão saindo da minha boca tornarão a vida daqueles que me escutam mais fácil, profunda, divertida, desafiadora, excitante [coloque aqui a palavra que mais faça sentido para a pessoa que te ouve].
Como o que eu direi serve quem me ouve?
Se o seu discurso não serve ninguém além de você mesmo (ou alguém que você representa), sugiro o silêncio e o esforço.
Mude o seu discurso até que você encontre algo que de fato ressoará em quem te escuta. Ou contente-se com a falta de comunicação da sua fala.
3. NÃO EXISTEM MENSAGENS IMPORTANTES. SÓ EXISTE A IMPORTÂNCIA QUE AS PESSOAS DÃO (OU NÃO) PARA AS MENSAGENS.
Nada, absolutamente nada, tem valor absoluto, valor por si só. Até o valor da vida de alguém depende de quem a está observando.
Por mais que você diga repetidamente que a mensagem (ou o preenchimento daquela planilha) é importante, o tamanho da sua importância para mim depende do tamanho do seu impacto na minha vida (ou, no máximo, na vida de quem me importa).
Ou seja: e o Quico (O quê que eu tenho a ver com isto)?
Para fazer as pessoas compreenderem a importância de algo, esforce-se para compreender como aquilo poderia importar para elas. De verdade.
Esforce-se para descobrir em que ângulo a mensagem se encaixa na vida da outra pessoa ou como um desencaixe lhe afetaria negativamente - em primeira pessoa - e comunique este ângulo antes de tudo.
Por exemplo: dizer que algo “evitaria erros” não é o suficiente. O que aconteceria comigo se eu não fizesse isto?
Talvez o que você considera um erro seja o jeito mais fácil que eu já descobri para trabalhar, e que me satisfaz plenamente! Que motivos eu tenho para mudar algo que só seria bom para você ou para a empresa?
O que mais importa pra quem te ouve? Não sabe? Então descubra, se quiser de fato se comunicar.
Empurrar discursos goela abaixo (por exemplo, focando na sua própria importância ou na importância da sua mensagem) é a melhor maneira de obter um resultado imediato que logo será substituído pelo que mais importa para a pessoa na outra ponta.
Ou você despende energia para falar a mesma ordem infinitas vezes (sem perspectiva de mudança) ou você despende energia para descobrir qual fala faz sentido pra qual pessoa, pra comunicar uma mensagem uma única vez e ir aprofundando o seu sentido a cada próxima oportunidade (a partir das mudanças).
4. O SEU INTERLOCUTOR PRECISA DESEJAR VOCÊ, ANTES DE DESEJAR O QUE VOCÊ DIZ.
A forma mais eficaz de ser escutado é ser uma referência: isto significa calar-se, agir e depois voltar para explicar a linha de raciocínio que motiva suas ações, que sustenta o seu “como”, que direciona suas atitudes.
Walk your talk. Seja. Faça. Fale depois. A presença de uma pessoa sempre chega antes da sua fala.
E mais, se o que costuma sair da sua boca tem o hábito de agregar valor a quem te escuta (de forma consistente), a probabilidade de prestarem atenção em você quando você fala passa a ser bem maior... A fórmula da confiança é simples: fale e faça. Sempre. A fórmula do respeito também: fale e seja. Sempre.
Sua mensagem só alcança quem deseja recebê-la, quem já está aberto para a possibilidade da escuta de você - de qualquer coisa que você tenha a dizer.
Só há uma forma de fazer as pessoas mudarem: você mesmo sendo e fazendo de um jeito tão maravilhoso que inspire os outros na mesma direção.
5. COMUNICAR-SE BEM É UMA ROTINA E NÃO UM MOMENTO
Uma comunicação ocorre em 2 níveis: há o nível das palavras que dizemos e o da relação que criamos com o interlocutor que sustenta as palavras trocadas.
Técnicas de oratória são sempre bem-vindas, mas o que de fato sustenta uma boa comunicação entre pares ou entre um líder e sua equipe é um bom relacionamento, e não a modulação da voz em momentos críticos de um discurso ou metáforas de impacto.
Inclusive, quem diz que a forma da fala (linguagem corporal e tom de voz) corresponde a 93% de uma mensagem (o famoso 7-38-55), está errado e/ou não leu o estudo do Merhabian (1967), que só se aplica a situações evidentes de incongruência entre sentimentos e atitudes.
Palavras, tom de voz e linguagem corporal devem harmonizar-se e não há evidência científica sobre o balanço ideal entre esses três elementos. Fato é: o conteúdo é, sim, absolutamente importante. Portanto, preocupe-se igualmente e perenemente com os três!
Quanto mais intenso o clima de hostilidade e incerteza em uma equipe ou organização, maior deve ser o cuidado com a forma, já que não há clareza sobre intenções e há pouco espaço para transparência. Relações frágeis exigem “dedos” e consciência sobre o impacto da forma. Todo mundo vive à espreita da próxima bomba.
Quanto maior o nível de confiança entre as pessoas de uma organização, mais fácil é consertar uma forma que saiu toda quadrada, porque até as palavras mais duras têm como pano de fundo a certeza da colaboração. Todo mundo entende que todo mundo entendeu, apesar do Bob ter exagerado um pouco.
Se quiser aprender a dar uma excelente sessão de feedback, mais do que usar aquelas técnicas infalíveis na hora H, é melhor explorar todos os outros momentos do ano para criar a relação de confiança que abrirá a mente e o coração do seu interlocutor para qualquer fala sua.
6. TEMPO, POR SI SÓ, NÃO RESOLVE NADA. ELE COSTUMA ATÉ PIORAR TUDO.
Antes de tudo, não é porque a sua equipe trabalha há anos junta que há fluidez na comunicação.
Pelo contrário: às vezes, a comunicação é difícil exatamente porque o que tende a abundar em relações de longa duração são as inferências tácitas (e irreais) que uma pessoa projeta sobre a outra.
O apego ao passado (ou ao que cada pessoa compreendeu sobre cada passado) pode ser um dos maiores empecilhos para a construção de uma boa comunicação no presente.
Mudanças novas em relações antigas exigem sobretudo clareza e esclarecimento sobre intenções, acolhendo a vulnerabilização das partes.
Tempo de relacionamento não significa solidez no relacionamento. Há vários motivos que fazem as pessoas permanecerem onde elas estão (e satisfação pode ser o último deles!).
Se o seu desejo é construir uma boa comunicação com sua equipe ou com os seus pares, o segredo está na palavra “construção”: isto exige intenção, esforço, preparação, prática e acima de tudo consciência.
Cabe a você mudar o rumo da prosa.
Você está insatisfeito com a comunicação na sua equipe? Dê o primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto passos. E ainda não serão suficientes! Não quer fazer isto? Pelo menos pare de reclamar.
Esperar pela mudança do outro é o melhor jeito de alimentar uma frustração e o status quo insatisfatório.
Esperar que o tempo resolva um conflito ou uma apatia é como acreditar que um bebê humano consegue se cuidar sozinho.
E não se iluda que existe algo que foi comunicado “de uma vez por todas”. A boa repetição de falas bem comunicadas também constitui um elemento importante para garantir a assimilação sustentável no tempo.
7. CONTEXTO IMPORTA TANTO QUANTO CONTEÚDO E FORMA.
Pouco importa o que se diz e o como, se o contexto impede o desenrolar positivo das boas intenções bem comunicadas.
Toda relação dentro de uma empresa se sustenta num contexto, num sistema de interações que vão muito além de 2 indivíduos ou de uma equipe. A este “sistema” dá-se o nome de “cultura”.
"Cultura" é algo que emerge de forma autônoma, sem ninguém saber como, apesar de todos estarem colaborando o tempo todo para seu surgimento. É aquela piadinha aqui, aquela virada de olho ali, aquele embrulhar de estômago acolá que criam de forma descentralizada um bicho silencioso e ubíquo.
A boa notícia é que um sistema emerge naturalmente a partir de interações rotineiras. Se você altera a rotina de interações com sua equipe, você está criando possibilidades para que o sistema se contamine positivamente.
Não há como exigir uma mudança de cultura (top down ou bottom up): há somente como construir rotinas que poderiam desembocar em alterações sistêmicas.
É como se você criasse um ecossistema paralelo com a sua equipe que tem o poder de expandir-se e dominar o sistema por inteiro.
E se o seu ecossistema for mais habitável que os demais da sua empresa - já que nele as pessoas se comunicam muito além de se falarem - provavelmente ele irá gerar mais resultados e terá pessoas mais felizes, o que significa mais gente querendo fazer o que vocês estão fazendo!
Muito trabalho, né? O que não vale é iludir-se que técnicas infalíveis irão provocar a mudança que você deseja, sem ter que suar a camisa.
(P.S. Desconheço os criadores dos memes divertidos que usei. Se alguém souber, me indique nos comentários que eu adoraria atribuir os créditos!)
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